Adolfo pode ter tido 'vitória de Pirro' com aprovação da PEC da Reeleição
Modulação do Supremo Tribunal Federal estabelece que "só cabe uma reeleição ou recondução dos membros das mesas, independentemente de os mandatos consecutivos se referirem à mesma legislatura"
Por Evilásio Júnior
20/03/2024 às 06:00
Atualizado em 20/03/2024 às 06:00
Foto: Evilásio Júnior
O presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Adolfo Menezes (PSD), pode ter tido uma "vitória de Pirro", nesta terça-feira (19), com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite a reeleição do chefe do Poder dentro de uma mesma legislatura.
Em dezembro de 2022, ao concluir o julgamento de nove ações diretas de Inconstitucionalidade (ADIs), o Supremo Tribunal Federal estabeleceu a modulação de que "só cabe uma reeleição ou recondução dos membros das mesas, independentemente de os mandatos consecutivos se referirem à mesma legislatura". Apenas fogem à regra, conforme o STF, "as composições eleitas antes de 7 de janeiro de 2021". Adolfo foi eleito quase um mês depois – em 1ª de fevereiro daquele ano.
Em entrevista ao Blog do Vila, do Portal Salvador FM, o parlamentar afirmou que, mesmo com a decisão do STF, tentará o terceiro mandato consecutivo se obtiver apoio da Casa.
"O problema é que o que a gente vê no Brasil vale para um, mas não vale para outro. Cabe ao Congresso Nacional deixar claro na Constituição o que pode e o que não pode. Aí foi um entendimento do Supremo. E é o que eu digo aos colegas, se eles entenderem lá na frente, mesmo com esse entendimento, ou com esses pareceres, que tem de ir, nós iremos. Se o Supremo decidir [que não pode], decisões judiciais são para ser obedecidas. Se faz outra eleição, não sei. O problema é essa dúvida [...] então fica essa bagunça no Brasil, e aí dá uma dupla interpretação. Então, se por acaso acontecer daqui um ano, sei lá, no período correto, se os colegas entenderem, mesmo com tudo isso, que deva-se fazer, vamos ver o que é que acontece, sem problema", afirmou Adolfo.
A situação chegou a ser colocada em plenário pelo deputado estadual Robinson Almeida (PT), após consulta ao jurídico da legenda e à Procuradoria da Casa. Tanto ele quanto os integrantes de sua bancada que estiveram presentes votaram a favor. Coincidentemente, as três ausências registradas foram de duas petistas – Fátima Nunes e Maria del Carmen – e Ivana Bastos (PSD), que pretende disputar o comando da Alba. Estranhamente, durante a votação, Eduardo Alencar, irmão do senador Otto Alencar, presidente estadual do PSD – mesmo partido de Adolfo –, deixou as dependências da Assembleia.
Em 2017, petistas e sociais-democratas se uniram à oposição, com a aprovação de outra PEC, desta vez para impedir a reeleição, medida adotada para barrar um possível sexto mandato consecutivo do então presidente Marcelo Nilo. A peça da época foi assinada por ninguém menos que o próprio Menezes, que chegou a criticar a atual proposta apresentada pelo seu antecessor Nelson Leal (PP) em novembro do ano passado.
Para Adolfo Menezes, a mudança de conduta não foi incongruente. "Pode parecer uma contradição, mas se eu pegar os meus pronunciamentos há mais de 20 anos aqui na Casa, eu sempre defendi e defendo que o Congresso Nacional corrija de uma vez por todas e acabe a reeleição, principalmente para os executivos, que é quem tem a caneta. Governador, presidente da República, né? Não é incoerência, porque naquela época não era ninguém contra o amigo Marcelo Nilo, mas ele estava tentando pela sexta vez consecutiva ser presidente. Então, toda a Casa achou um absurdo, tanto é que ele acabou não tendo sucesso. O nosso colega [Ângelo] Coronel [hoje senador] foi presidente. Então não acho que é incoerência não, porque era uma época totalmente diferente, quando um colega tentava pela sexta vez e isso não vai acontecer nunca novamente aqui na Casa. Nem com o Adolfo, nem com outro presidente", considerou.
Entre os presentes na sessão, os únicos deputados a votarem contra foram Júnior Nascimento (União Brasil) e Hilton Coelho (PSOL), ambos respaldados na modulação do STF de que a PEC seria inconstitucional.
Empréstimo
Antes da votação da PEC, a Assembleia aprovou o requerimento de urgência para a votação de um pedido de empréstimo do Governo da Bahia à União, no valor de R$ 400 milhões, para "viabilização de investimentos previstos no Plano Plurianual e nos orçamentos anuais do Estado na Área de Segurança Pública".
A votação ocorreu em meio aos debates sobre a reeleição e pegou a oposição de surpresa. Apenas Hilton percebeu a manobra e se manifestou contra na hora. Após protesto dos bolsonaristas Diego Castro e Leandro de Jesus (ambos do PL), o líder da minoria, Alan Sanches (UB), pediu questão de ordem para informar que sua bancada também era contrária à contratação. “Já são R$ 4 bilhões de pedidos de empréstimo aprovados nesta Casa sem nenhuma transparência”, reclamou. Mesmo assim, seus correligionários Marcinho Oliveira e Júnior Nascimento mantiveram o posicionamento favorável.
Mais tarde, em conversa com o Blog do Vila, Adolfo pediu "desculpas" à oposição, disse que os parlamentares estavam "corretos" e garantiu que retificou os votos. A votação do financiamento em plenário, segundo ele, "não tem previsão" para ocorrer.