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O que está por trás do superpovoamento político em Camaçari nos últimos dias?

O que está por trás do superpovoamento político em Camaçari nos últimos dias?

Confira a análise do Blog do Vila sobre os interesses dos grupos políticos liderados por PT e União Brasil no único segundo turno realizado na Bahia em 2024

Por Evilásio Júnior

18/10/2024 às 06:00

Atualizado em 24/10/2024 às 10:28

Foto: Divulgação

Quarto município mais populoso da Bahia, com 319.394 habitantes, conforme o último censo divulgado pelo IBGE este ano, Camaçari tem vivido nos últimos dias um superpovoamento de figuras políticas em função da inédita disputa pela prefeitura em segundo turno.

Devido ao empate técnico entre os candidatos Luiz Caetano (PT) e Flávio Matos (União Brasil) em todas as pesquisas divulgadas até então, a tentativa de ambos os times é reverter a maior parte dos 10.437 votos brancos e nulos (6,22%) e, sobretudo, motivar os 38.073 eleitores que se abstiveram de votar no primeiro turno (18,49%). 

O consenso entre os dois polos é o de que quem conquistar mais adesões na gincana inevitavelmente vence a eleição.

Caravana azul 'mora' em Camaçari


Desde 7 de outubro, o prefeito Bruno Reis (UB), o vice-presidente nacional do partido, ACM Neto, outros prefeitos e vereadores eleitos, bem como deputados estaduais e federais aliados, praticamente mudaram os seus domicílios a fim de prestigiar a cidade e demonstrar "unidade do grupo".                

Obviamente, o objetivo da caravana azul é se manter no poder com o presidente da Câmara, indicado pelo atual prefeito e correligionário Antônio Elinaldo, que encerrará o segundo mandato no próximo dia 31 de dezembro. Para tanto, a estratégia de multiplicar as postagens nas redes sociais foi intensificada. Por dia, são centenas de cards de apoio, fotos e vídeos, mas o tom dos ataques ao adversário petista subiu tanto que o próprio Neto já foi obrigado pela Justiça a apagar conteúdos. 

Igualmente, no corpo a corpo, os eventos presenciais têm sido cada vez mais frequentes. Fora as caminhadas e carreatas, só esta semana, dois comícios foram marcados, na segunda (14) e na sexta-feira (18), em estilo megaprodução.

Governo 'transfere' sede e usa Lula como 'bala de prata'


Do lado vermelho, 72h após o primeiro turno, que registrou uma vantagem de apenas 559 votos para o petista Luiz Caetano sobre o adversário, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) lá esteve para entregar rodovia e autorizar a construção de uma ponte sobre o Rio Jacuípe.

Quatro dias depois, foi a vez de a secretária de Saúde do Estado, Roberta Santana, se instalar com a sua equipe para ofertar serviços da "Feira de Saúde" até o fim de semana. Em entrevistas a órgãos de imprensa, ela criticou contundentemente a atual gestão. O mantra consiste na falta de construção de um hospital municipal e na baixa aplicação (0,7%) dos recursos destinados às cirurgias eletivas que, segundo o governo, somam R$ 9,5 milhões, entre verbas de programas nacional e estadual.

Para coroar a empreitada, a ida do presidente Lula nesta quinta-feira (17) foi propagada como uma espécie de "bala de prata" no pleito. Em 2022, o líder petista obteve 101.063 votos da população camaçariense (67,21%) contra 49.304 (32,79%) do oponente Jair Bolsonaro (PL). 

Ausente de todos os 417 municípios baianos na primeira etapa, ele foi convencido pelos ex-governadores Rui Costa, atual ministro da Casa Civil, e Jaques Wagner, hoje senador, a visitar a cidade e participar de um ato político lotado de prefeitos, secretários e parlamentares de diversas regiões. 

PL de Bolsonaro aposta alto em Flávio  


Aos 44 anos, Flávio Matos tenta representar o novo e, assim como Bruno na capital, foge de qualquer tipo de nacionalização do debate. As receitas de campanha publicadas no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no entanto, dizem o contrário. 

Entre os R$ 6.714.720 arrecadados, a maioria foi destinada pelas direções nacionais de partidos. Destaque para o segundo maior doador, o PL de Valdemar da Costa Neto e do clã Bolsonaro, com R$ 1,4 milhão, atrás apenas da própria legenda do candidato (UB), que injetou R$ 4.512.220 na campanha.

Receitas Flavio Matos
Fonte: TSE

Empresários apoiam Caetano


Luiz Caetano geriu o município de 1985 a 1988 e de 2005 a 2012 e tenta o quarto mandato. Com 70 anos, ele joga pelo empate, segundo as regras determinadas pela lei eleitoral, e leva vantagem ainda no critério financeiro. 

Até o momento, ele conseguiu captar R$ 7.353.573,48 de 132 doadores. Fora o PT nacional, que desembolsou R$ 5.439.715,48, as somas mais vultosas foram empenhadas por CPFs de empresários: Maria Paula Lanat Suarez, do setor financeiro (R$ 810 mil); Paulo Celso Guerra Lage, do segmento imobiliário (R$ 500 mil) e Luiz Alberto Benevides Barbosa, do ramo energético (R$ 190 mil).

Receitas Luiz Caetano
Fonte: TSE

Ba-Vi é ensaio para 2026


Se para ACM Neto e Cia a vitória consolida o triunfo do União em todas as cinco maiores cidades do estado – já venceu em Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista (sub judice) e Lauro de Freitas –, pelo mesmo motivo, no caso de Jerônimo e sua trupe a derrota terá um efeito avassalador. 

Na prática, o significado do Ba-Vi, mais que representar comandar a segunda maior economia da Bahia, 8ª do Nordeste e 38ª do país (R$ 33.971.705,19, segundo o IBGE), é o espelhamento do palanque a ser montado para a eleição de 2026.