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Fiasco em Salvador expõe as vísceras do PT

Fiasco em Salvador expõe as vísceras do PT

Saiba os bastidores da derrota histórica do PT e outras informações sobre a eleição na Câmara Municipal de Salvador

Por Evilásio Júnior

09/10/2024 às 14:34

Atualizado em 14/10/2024 às 10:52

Foto: Ulisses Dumas / Divulgação

Cem em cada cem petistas entrevistados pelo Blog do Vila admitem em reservado que o partido vai precisar se reinventar para superar o fiasco da derrota acachapante sofrida em Salvador. Não apenas por causa da vitória esmagadora do prefeito e candidato à reeleição, Bruno Reis (União Brasil), mas também pela drástica redução da bancada de vereadores, que tornou a sigla menor que PCdoB e PSOL na cidade. Até o primeiro suplente da Federação Brasil da Esperança, formada também pelo PV do campeão de votos do grupo André Fraga, é comunista: Hélio Ferreira. Para a eleição de 2026, dizem eles, há risco de o PT "ficar menor que o PSDB [nacional]" se não houver uma avaliação assertiva a fim de corrigir os rumos. "Essa derrota expôs as vísceras do partido"; "Não há renovação. Só tem chances com caciques"; "Até ovada o governador tomou [em Jeremoabo] e perdeu em Feira [de Santana]"; "Waldenor [Pereira] ganhou metade dos votos de Sheila [Lemos], mesmo judicializando [em Vitória da Conquista]".

Broncas com Wagner e Geraldo
 

As declarações dos filiados ao partido do governador Jerônimo Rodrigues revelam o nível de preocupação futura e revolta presente. Enquanto para muitos o principal culpado na capital foi Jaques Wagner, "criador" de escolhas "erradas", para outros foi a "criatura", Geraldo Júnior (MDB), que além de ser um candidato "errático", colocou gente de sua equipe, não apenas o coordenador da campanha Henrique Carballal, para pedir votos para a vereadora Marta Rodrigues, única salva do calvário. Confira algumas das falas obtidas em reservado sobre o senador e o vice-governador: "O culpado é Wagner que tirou o peso da capital"; "O erro foi ter escolhido Geraldo, pois a cabeça de chapa tinha que ser do PT"; "Até agora o senador não se manifestou sobre a derrota, pois sabe que ele é o responsável por tornar o PT menor que o PSOL e o PCdoB"; "Direita combater direita, para o povo é melhor deixar o que está lá"; "A gente ia para a caminhada e o povo de Geraldo pedindo voto para Marta, não bastavam Carballal e Roberta [Santana, secretária estadual de Saúde?]". 

Presidente acusada de desarticular candidatos

Em relação à direção, a principal queixa recaiu sobre a presidente municipal do PT, Cema Mosil. Ela foi acusada de desarticular a militância ao declarar voto em Gilmar Santiago, que alcançou a mísera quarta suplência na federação, com 5.629 votos. "É uma marionete"; "Botou praguinha de Gilmar e foi derrotada de forma horrível"; "Isso afetou demais os outros candidatos"; "Direção não pode fazer declaração de voto"; "Ajude, mas não declare". Em tempo, o marido da comandante petista, Jhones Bastos, seria candidato, mas, como foi impedido por ter contas reprovadas, fraturou o Movimento dos Sem Teto de Salvador. O MSTS se dividiu entre o apoio a Gilmar e a candidatura do advogado Joel Meirelles, o terceiro suplente do grupo, com 6.242 votos. Quadro histórico, o vereador Arnando Lessa somou 4.651 votos e ficou na sexta suplência. E o presidente estadual Éden Valadares nessa história?: "Éden nem apareceu. Viu o circo pegar fogo e lavou as mãos como Pilatos".

Marta e o rabo de cavalo

Marta Rodrigues, cujo irmão por acaso é o governador, também foi alvo da ciumeira. Embora tenha obtido a sua maior votação particular, com 13.840 votos, e 10ª colocação geral entre os 43 eleitos, o fato foi minimizado por aliados. "Sem sair de casa, Waldir Pires teve 13.801 votos"; "Com toda a máquina do governo, Conder, Secult, Sesab, trabalhando por mim, até eu tinha pipocado de votos"; "Ficou feio. Jerônimo só deu prioridade para a irmã"; "Por causa de Marta, voltamos aos primórdios do PT". O PT saiu de um vereador em 1988 e chegou a ter sete eleitos em 2012. Já no estado, enquanto a direção da legenda enaltece o número de prefeituras conquistadas – 50 –, na prática o resultado significa cinco vezes menos eleitores do que os que serão administrados pela agremiação de ACM Neto em suas 39 cidades: 5.011.237 contra 1.014.521. O placar é fruto de o União Brasil vencer 22 dos 30 maiores municípios da Bahia. PT e UB ainda se enfrentam em Camaçari, com pouco mais de 200 mil cidadãos aptos a votar. O objetivo, obviamente, é 2026.

Suíca e Tiago podem virar de lado

Acusados de fazer base enrustida para o prefeito Bruno Reis, os vereadores petistas Luiz Carlos Suíca e Tiago Ferreira têm o futuro incerto para 2025. Diretor jurídico do Sindicato dos Trabalhadores Em Limpeza Pública, Asseio, Conservação, Jardinagem e Controle de Pragas Intermunicipal (Sindilimp), Suíca ficou na segunda suplência da Federação Brasil da Esperança, com 7.168 votos, e poderia ser beneficiado com a subida de um dos eleitos. No entanto, a situação de Tiago, que recebeu 5.236 votos, é bem mais complicada. O dirigente do Sindicato dos Rodoviários ficou na quinta suplência e é improvável que retorne à Câmara na próxima legislatura como vereador. O presidente da Casa, Carlos Muniz (PSDB), convidou a dupla para uma conversa e pode indicá-los a alguns cargos, o que tradicionalmente acontece com ex-edis. Bruno também já marcou reunião com ambos para ouvir "sugestões" de seus setores para a próxima gestão, e há quem aposte que eles podem "virar a folha".

Joceval foi derrotado em 2022, diz aliado

Fiel escudeiro de Geraldo durante toda a via crucis, Joceval Rodrigues (MDB) foi o vereador de mandato com o pior desempenho eleitoral da história: 1.538 votos. Quarto suplente emedebista, aposta-se que ele será acolhido pelo vice-governador. "O erro dele foi quando deixou a base na loucura. Foi derrotado em 2022 e destruiu 400 famílias que tinham cargos dele na prefeitura. O governo não reaproveitou ninguém", lamentou um amigo do emedebista.

Apadrinhados malogrados

Se de um lado Roberta Caires (PDT), candidata do vice-presidente do União Brasil ACM Neto, se envaidece por ser a mulher mais votada da Câmara, com 16.517 sufrágios, outros apadrinhados não tiveram a mesma sorte. O badalado Zilton Krueger Netto deixou a Codecon com pompa e bênçãos do deputado federal Leo Prates para buscar uma vaga e bateu fofo, com 6.333 votos, mais de 3,8 mil abaixo da 4ª colocada e eleita pelo PDT, Débora Santana (10.137). No entanto, como primeiro suplente do partido, ele deve ser premiado com um mandato. O mesmo não pode ser comemorado por Gustavo Aciole, genro do ex-presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo, que se candidatou pelo DC e só obteve 4.224 votos. Já Dudu Magalhães (PSDB), sobrinho do ex-deputado federal Jutahy Magalhães, encalhou com 3.509 votos. Além de Roberta, também se deram bem Marcelo Guimarães Neto (União), com 8.873 votos, e João Cláudio Bacelar (Podemos), com 9.339 votos.