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ACM Neto macula vitórias com radicalismo em Camaçari; PT precisa se reinventar
ACM Neto macula vitórias com radicalismo em Camaçari; PT precisa se reinventar
Blog do Vila avalia resultados em 2024 e impactos em 2026: "O recado das urnas este ano foi inquestionável: quem semeou radicalismo, colheu derrotas, ou como disse o próprio gestor paulistano após a sua vitória: 'O equilíbrio venceu todos os extremismos'"
Por Eviásio Júnior
28/10/2024 às 06:00
Atualizado em 30/10/2024 às 21:42
Foto: Reprodução / G1
Grande vencedor das eleições 2024 na Bahia, o vice-presidente do União Brasil, ACM Neto, maculou os seus triunfos ao adotar um discurso extremista em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, contraindicado pela sua própria equipe de comunicação, conforme apurou o Blog do Vila.
Se de um lado a sua sigla venceu em 39 municípios, dos quais seis dos 10 maiores do estado – Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista (sub judice), Lauro de Freitas, Ilhéus e Barreiras –, e vai governar para mais de 5 milhões de pessoas, a última trincheira em disputa coloca em xeque a credibilidade do principal opositor ao grupo governista, liderado pelo PT há 17 anos.
Neto errou – e precisa fazer mea culpa – ao difundir acusações infundadas sobre um suposto vínculo do Partido dos Trabalhadores a organizações criminosas e ao tentar descredibilizar a atuação da Polícia Militar, como forma de atacar a grave crise de segurança que afeta boa parte da população baiana.
Na capital, por exemplo, vereadores eleitos e não eleitos relatam que candidatos das mais variadas bandeiras, cores e ideologias, inclusive de seu partido, dialogaram e obtiveram bênçãos de chefões nas comunidades, sem que ninguém apontasse que instituição A ou B se associou oficialmente ao crime. Se ele tem provas de um escândalo que seria internacional, apresente a quem de direito. Difundir de forma irresponsável às vésperas de um pleito acirrado apenas demonstrou fraqueza, que antecedeu a derrota.
Na prática, o pavor instaurado na população foi um dos fatores responsáveis pelo crescimento da abstenção, que subiu de 18,49% na fase inicial para 19,63% na etapa final, quando 40.418 pessoas deixaram de votar.
No entanto, apesar do seu fracasso em Camaçari – sim, foi dele – no embate entre Flávio Matos (UB) e o petista Luiz Caetano, que obteve frente de apenas 2.902 votos, o ex-prefeito da capital ainda se credencia a ser o candidato rival do governador Jerônimo Rodrigues (PT) em sua tentativa de reeleição em 2026.
Embora haja aposta de parte do PL sobre um suposto acordo com João Roma – na tese, o presidente estadual da legenda bolsonarista teria aberto mão de concorrer nas principais cidades a fim de ser o postulante apoiado por seu ex-aliado –, e até do União, que aponta a necessidade de mandato para seu líder-mor e vê na disputa para o Senado, ou até mesmo para a Câmara dos Deputados, um caminho mais fácil, ACM Neto só não será um oponente competitivo ao Palácio de Ondina se não quiser.
A questão que se coloca é: sua tática será a do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018 e 2022, ou a versão piorada de Pablo Marçal em 2024 em São Paulo, com disseminação de fake news, ofensas pessoais e propagação do ódio, sem qualquer programa de governo factível? Aliás, o empresário filiado ao PRTB é assediado pelo UB como uma das apostas para o próximo pleito.
Tarcísio = Neto?
Coincidentemente, ou não, a "denúncia" de Neto foi idêntica à apresentada pelo governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), horas após a abertura das urnas no domingo (27).
Sem provas, e oportunamente citando um suposto episódio ocorrido no primeiro turno somente no dia da votação, o chefe do Executivo paulista acusou a esquerda de ter associação com facções criminosas.
O alvo lá era Guilherme Boulos (PSOL) que acabou derrotado pelo atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), seu aliado, que bateu o adversário com mais de um milhão de votos de frente. Ou seja, não precisava o governador se expor e cometer um ato tão irresponsável, muito mais grave do que o laudo fake criado por Marçal no primeiro turno, pois ele é o chefe das forças de segurança do Estado.
Aos afoitos de plantão, o recado das urnas este ano foi inquestionável: quem semeou radicalismo, colheu derrotas, ou como disse o próprio gestor paulistano após a sua vitória: "O equilíbrio venceu todos os extremismos", apesar da mancha aplicada pelo seu grande fiador. Em nível nacional, o centro e a centro-direita cresceram exponencialmente: o PSD conquistou 887 prefeituras e o MDB ganhou 854, ambos com cinco capitais. O PP, com 747, e o União, com 591, cada um com quatro capitais, completam o pódio dos campeões.
PT e esquerda têm que se renovar
Pelo lado do PT, está mais do que evidente que o partido precisa se reinventar e renovar seu discurso, não só na Bahia, mas em todo o país. Vencedora de apenas uma capital brasileira – Fortaleza, exatamente no maior duelo diante do PL (50,38% de Eduardo Leitão contra 49,62% de André Fernandes) –, a agremiação vai comandar 50 municípios baianos a partir de 2025, pouco mais de 1,3 milhão de habitantes e apenas uma grande prefeitura, justamente Camaçari, em que seu futuro prefeito já tem 70 anos.
Por falar em idade, Lula acaba de completar 79 e terminará um eventual segundo mandato com 85 (!). As novidades do segmento são todas externas ao petismo: João Campos (PSB), reeleito no Recife com 78,11% dos votos, e o pessolista Boulos, apesar da derrota na capital paulista, que repetiu os pouco mais de 40% registrados em 2020 na maior cidade do país. Na Bahia, também vem do PSOL, com Kléber Rosa, derrotado ao governo em 2022, que surpreendeu com um honroso segundo lugar este ano na capital. Todos homens e apenas o soteropolitano preto, o que contradiz a retórica esquerdista.
De volta ao PT, se antes a legenda pautava a criação de programas sociais, mobilizava a militância nas periferias e se espelhava na vanguarda da esquerda mundial, hoje é dominada por um seleto grupo de homens de cabelos brancos que, de seus confortáveis gabinetes, exaltam o seu passado glorioso.
Talvez a tragédia eleitoral de Salvador, com um 3º lugar na majoritária e uma vereadora eleita na proporcional, ilumine o caminho do que não dá mais resultado. O desafio é quebrar a teimosia dos veteranos, ouvir o que de fato a população espera e renovar, não apenas internamente, mas sobretudo seu espectro de alianças.
Neto e o União Brasil, Jerônimo e o PT novamente devem ser os protagonistas em 2026, se aprenderem com os seus próprios erros e passarem a se preocupar menos com os próprios umbigos e mais com os 567.295 km² de extensão da Bahia.